domingo, 18 de maio de 2008

2008.03.29 - Biblioteca Municipal Luís de Camões - Alvito - Apresentação de "O livro do regresso"

Em primeiro, agradeço a vossa presença porque quem faz de facto o poema não é o poeta, mas quem o lê.
Também um agradecimento especial para a Conceição Paulino pela disponibilidade e pelas suas palavras sobre este meu livro.
Um outro para a Edium Editores que, teimosamente contra ventos e marés, continua firme na sua aposta na Poesia. Merece, não só da parte de quem escreve, mas sobretudo de quem aprecia e apreciará este género, todo o nosso empenho para uma justa afirmação na conturbada cidade dos livros.
Por fim, há que agradecer às entidades que apoiam esta edição: a Junta de Freguesia de Santa Clara e a Região de Turismo da Planície Dourada. Também à Câmara Municipal do Alvito que não mediu esforços para que este evento se tornasse uma realidade.
Enriquecem-na com a sua acção, não só facilitando a publicação da obra, mas por permitirem que o nome de Raúl de Carvalho seja de novo lembrado.
Sobre “O livro do regresso”, que recebeu o Prémio de Poesia Raúl de Carvalho, em 2005, organizado pela Câmara Municipal do Alvito, nada direi, mas permitam-me que diga o seguinte:
Um dia, Raúl de Carvalho escreveu:
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta
(...)
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Retirando estes seus versos do seu contexto original, e tomando este eu que escuta como o leitor, temos a perfeita imagem da casa da Poesia na cidade dos livros.
A casa da Poesia é uma casa modesta, situada num pequeno beco, mas com saída.
Na cidade dos livros há largas avenidas, imensas ruas todas elas bem iluminadas.
No entanto, o beco, onde a casa da Poesia se situa, aguarda serenamente que lhe mudem a lâmpada do candeeiro da iluminação pública que há muito se fundiu.
Também a placa toponímica, embora bonita e em bom estado, necessitava de um maior respeito por parte dos que retiram proveito dos encantos da cidade dos livros, pois está constantemente oculta por trás dos mais diversos cartazes.
Pessoalmente, de uma forma global, nada tenho contra a publicidade e o marketing dado ser através destes que continuo a pagar a renda da casa onde habito, mas há que ter respeito por este pequeno beco onde existe a casa da Poesia.
E digo isto porque cada vez se torna mais complicado, mesmo para quem conheça bem esta cidade, orientar-se até à casa da Poesia.
É que nem os mais antigos taxistas, os mais batidos no conhecimento de ruas, becos, vielas da cidade dos livros, conseguem intuitivamente desenhar o melhor trajecto para lá chegar.
Bem sei que os cartazes prometem sucesso até nas futuras conversas intelectualizantes à beira cafeína, mas a Poesia sempre foi, sempre é e sempre será aquela que melhores frutos produz.
Ela e a sua vizinha do lado, a Filosofia. Não só enriquecem a Língua como a necessária capacidade de abstracção.
Eu sei. Quando morre um poeta há homenagem, festa. Até os seus livros, nem que seja só por esse dia ou semana, aparecem lindos nas monstras. Até vão à televisão dizer a falta que faz. Até os jornais esticam as páginas da cultura para o devido elogio.
Mas aquilo que o poeta, tal como o leitor, realmente quer é que se saiba, sem dúvida alguma, que a casa da Poesia continua a existir, que o seu beco está bem iluminado e que a placa toponímica se encontra bem visível, tal como as outras.
Este é o seu mais íntimo desejo.

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