terça-feira, 30 de setembro de 2008

[entoa]

entoa
a canção
do mar

com o mar
ao fundo

do mar
oculto

do mar
em tuas mãos

de búzio

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

2008-09-27 – Auditório C. M. Amadora - Apr. de “Mínimos instantes”, de Paulo Afonso Ramos (Edium Editores, 2008)

Agradeço a vossa presença, como é, aliás, obrigação de todos quantos estão ligados à Literatura. Sem leitores não há, de facto, livros, mas objectos criados com intuito decorativo.

Um livro, quando nasce, é para ser lido. É um acto de partilha de sensações e ideias, de uma forma específica de olhar e interpretar o mundo. Daí, o meu sincero obrigado.

Agradeço também à Câmara Municipal da Amadora o facto de permitir esta apresentação neste seu espaço.

Naturalmente que também agradeço à Edium Editores por mais esta sua aposta, mas, sobretudo, por existir. Sei que não quer ser grande, mas, pelo trabalho que tem desenvolvido, queira ou não queira, já o é.

Bom, mas é ao Paulo Afonso Ramos que devo um agradecimento especial. Não por me ter convidado para escrever o prefácio deste seu livro ou pelo desafio de o apresentar, mas pelo favor que me faz em ser, de facto, um camarada.

Conheci-o no Alvito, uma das mais belas vilas deste nosso país, aquando da apresentação do meu “
O livro do regresso” e do título “Da humana condição” desse grande poeta de Língua Portuguesa que é José-Augusto de Carvalho.

Não satisfeito com os ares diurnos alentejanos, acompanhou-nos pela noite dentro até outra sessão em Viana do Alentejo. Diria a má-língua que a dúvida reside em saber se era a Poesia ou a Gastronomia – melhor: o jantar e a necessária digestão de tão aprimorado repasto; o que o fizera percorrer aqueles caminhos de além-tejo.

O certo é que tem sido uma presença constante via telefone, o que me leva a supor – e que se confirma em diversas ocasiões - que partilhamos algo de importante: a militância; a vontade de fazer chegar o mais longe possível o que vamos e que os outros vão escrevendo.

Mas uma coisa é certa. Neste pormenor não há quaisquer dúvidas: só a indústria farmacêutica não o deve ter em grande conta. No fundo, desviou um mais do que potencial cliente dos célebres medicamentos para dormir. Esse mais do que certo cliente era eu. O que esperava para carregar no botão para actualizar o seu blogue. Pois bem, o Paulo Afonso Ramos, ensinou-me a programá-lo pelo que ganhei uns bons minutos extra de sono diário.

Por fim, a boa disposição e a capacidade de comunicação fazem do Paulo Afonso Ramos alguém com quem vale a pena conversar. É alguém que confere à sua escrita estas preciosas características.

Por tudo isto, e muito mais que poderia aqui dizer, é, para mim, com bastante agrado que vim apresentar este seu novo livro: “
Mínimos instantes”. Até vos confesso que se outra pessoa aqui estivesse a fazê-lo sentir-me-ia com um pouco de inveja. O Paulo bem merece a nossa presença.

Ora bem, “
Mínimos instantes”. Como epígrafe a esta leitura, permitam-me que utilize um dístico do poeta Albino Santos retirado do seu livro, que em breve a Edium Editores apresentará, intitulado: “Madrugada sem fronteiras”. Albino Santos escreve o seguinte:

É no sonho
que o instante se faz eterno

Pois bem, poderia acabar aqui e agora a apresentação do livro “
Mínimos instantes”, de Paulo Afonso Ramos. De facto, estes versos de Albino Santos sintetizam quase na perfeição o muito que se pode descobrir ao ler este volume.

Temos a dimensão onírica, o instante e o ensejo de esse instante se prolongar no tempo.

Mas temos sobretudo aquilo que torna possível uma possível descrição do instante: a palavra. Palavra que Paulo Afonso Ramos recria constantemente porque a respeita como organismo vivo, possuidor de respiração própria, capaz de interagir com as outras palavras.

Mas essa percepção de interacção só se torna possível porque existe quem as decifre, quem as leia.

Como escreve Paulo Afonso Ramos, e passo a citar:

Deixo-me nas palavras...
Entrego-me ao sabor de quem as lê

E é curioso este excerto que vos li. Uma frase hexassilábica seguida de um decassílabo, como se nos anunciasse, tal como nas odes – as alcaicas assumem estas características dado serem compostas por hexassílabos e decassílabos; da profundidade temática.

Refiro esta circunstância dado a mesma ocorrer por diversas vezes neste volume como, por exemplo, esta outra, e passo a citar:

A noite sedutora teve-me nos seus braços de capim

Ou seja: há por parte do autor o cuidado ou a necessidade de atribuir, em determinadas circunstâncias, um certo ritmo, ritmo esse capaz de acordar uma certa ligação entre a componente emotiva e a componente racional do leitor ou, mais concretamente, do decifrador do texto.

É a palavra a assumir o papel primordial neste “
Mínimos instantes”.

Como há pouco referi, um livro necessita de leitores, tal qual aquela célebre expressão popular, como pão para a boca. Entre as diversas opções de registro possível, a escolha de Paulo Afonso Ramos é, na minha óptica, esta: um remetente, um destinatário.

Ou seja, na visão do leitor, que eu sou, o autor ponderou sobre a palavra, mas por mais ardiloso que seja o seu uso, isolada esta de pouco ou nada vale. Havia que encontrar o meio, o veículo mais adequado para a reactivar, para a retirar do seu estado, digamos assim, letárgico.

Assim, Paulo Afonso Ramos opta pela tal máxima que há pouco aludi: um remetente, um destinatário; recorrendo neste seu “
Mínimos instantes” a um registro que qualifico próximo do epistolográfico.

E esta é, na minha leitura, a forma mais apropriada de comunicar. Embora hoje estejamos habituados a esta coisa do e-mail, o certo é que há uma certa magia em torno de uma carta.

E esse é o prazer que o Paulo Afonso Ramos oferece ao leitor, o seu imaginário destinatário, mesmo que concreto ao autor este seja.

É nesta encruzilhada que situo este seu livro. Cada um de nós pode, portanto, optar pelo caminho que desejar porque diversas são as hipóteses que se abrem ao virar de cada página.

Obrigado.

domingo, 28 de setembro de 2008

Prefácio - "Mínimos instantes", de Paulo Afonso Ramos (Edium Editores, 2008)


"Mínimos instantes"
Paulo Afonso Ramos
(Edium Editores, 2008)


Prefácio


Desde os primórdios da Humanidade que o Homem entendeu querer desvelar o Tempo. Mesurá-lo de forma a controlá-lo. No entanto, o feitiço virou-se contra o feiticeiro e o Homem tornou-se num quase escravo do Tempo.

Isto surge a propósito de uma velha questão. Há alturas em que pondero se posso de facto ler este ou aquele livro, se tenho naquela altura o tempo suficiente para o fazer. Muitos são os que se vão acumulando, sobretudo para o período das férias. E tudo porque há coisas na vida que têm muito mais valor do que a literatura: a família, mas, sobretudo, os filhos. Por isso, há que optar. E eu, como qualquer outra pessoa, opto.

Escolho livros para a leitura imediata que sejam de fácil transporte. Tenho aí a vida facilitada porque, por norma, os livros de Poesia são de pequenas dimensões.

Neste momento, deve estar o leitor a pensar do por quê de um prefácio escrito com este conteúdo, mas imagine, imagine que tem de utilizar transportes públicos para ir e voltar de casa para o trabalho e do trabalho para casa.

Imagine que até dispõe de uns bons quinze minutos no início da manhã antes de picar o ponto.

Imagine que na hora de almoço lhe sobram mais uns dez minutos antes de regressar à labuta e até está num daqueles dias em que a melhor companhia de todas é exactamente aquela pessoa que todos os dias vê ao espelho.

Imagine que o autocarro ou o combóio demora mais uns cinco minutos para chegar.

Agora, opte entre o que poderá fazer nessa meia-hora da sua vida. E tudo, porque, imagine, não tem hipóteses de fazer aquela viagem de ida ou de volta sentado. Porque aí sempre tem mais uns minutos para agregar à contabilidade do tempo, do tempo que lhe escorre entre os dedos.

Talvez por tudo isto, mas sobretudo pelo que encerra este livro de Paulo Afonso Ramos, sugestivamente intitulado “Mínimos instantes”, enquadra-se no que se pode ler exactamente nesses momentos da nossa vida.

São pequenas histórias, mas grandes na intensidade, na reflexão, na paixão com que o autor se entrega a desenhar cada quadro. Tudo, mas servido na exacta medida do tempo, do nosso tempo quotidiano.

No entanto, não se iluda pela disposição gráfica dos mesmos. O seu registro de linguagem aproxima-se mais da Poesia, tal é o grau de elaboração empregue por este verdadeiro poeta, mas que aparentemente nos surge ao olhar como prosador.

Paulo Afonso Ramos é um verdadeiro pintor por palavras. Dá-nos, através do seu registro, sensações, sentimentos e reflexões sobre o seu próprio caminhar, sobre o que observa e que nos lega pela escrita.

Fá-lo de uma simples e cristalina, sem carambolas. E fá-lo porque sabe o quão precioso é aquele mínimo instante que possuímos para nos determos perante um texto.

Agora, fala a voz da experiência, lê-lo é assumir o risco do virar de página e só sair na paragem seguinte, mas é aí que reside o encanto da sua palavra, o saber cativar a quem ousa terminar um poema ou uma história e seguir para a próxima página sem antes verificar onde nos encontramos.


Xavier Zarco
Coimbra, 20 de Maio de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

[enlaça]

enlaça
as vozes
anteriores a ti
no teu poema

porque
ancestrais
somos nós

sabedores do tempo
herdeiros
e construtores de memória

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

[engana]

engana
o tempo

esgana
o tempo

que a areia
não passe

na garganta
da ampulheta

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

[embutido]

embutido
o ícone

exposto

aguarda
que pelo corpo
irradie
o saber
da terra

a sabedoria
de ignotos
deuses

estranhos
ao mundo

ao conhecimento
dos homens

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

[Em torno das casas, as vozes]

Em torno das casas, as vozes
plenas do cântico das aves
que rodopiam e iluminam
o olhar dos homens. Estes semeiam
águas breves como se o barro
primordial de novo moldassem.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

[em teus braços]

em teus braços
repouso o último verso
de um poema impossível de escrever

é meu filho
que respira a esperança

sol que nasce e ilumina
o olhar

este olhar eterno em mim

enquanto memória em mim
houver

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

[em sonhos conquisto teu rosto]

em sonhos conquisto teu rosto
por alamedas por onde ardem
espelhos quebrados e a luz
é orvalho em pétala de flor
que acaricia o sol que sente
bordar seu corpo de criança

domingo, 21 de setembro de 2008

[em patmos]

em patmos
verão
o fim

infindos
ritos
de morte

ou o nascer
de um novo
rumo

verás
retábulos

embutidos
na árvore
do mundo

verás
o que teu
próprio
olhar

a medo

indagar

sábado, 20 de setembro de 2008

[em minhas mãos nasce a vontade]

em minhas mãos nasce a vontade
de criar
de cinzelar o silêncio
e erguer a memória

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

[em fogo a palavra esvoaça]

em fogo a palavra esvoaça
por sobre a mesa onde o poema
exposto espera o último gesto
de um parto em sonho anunciado

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

[em espiral]

em espiral

ascende
no dorso
da música

és vaso

sangue
iluminado

que comunica
com o cosmos

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

[Em cada palavra esconde-se]

Em cada palavra esconde-se
a voz que a pronuncia

terça-feira, 16 de setembro de 2008

2008-09-13 - Apr. de: “Sentada na Areia”, Joana Moça (Edium Editores, 2008) - Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, Famalicão

Embora sabendo que me vou repetir, tenho de agradecer, e muito, a vossa presença aqui, nesta tarde de sábado, para assistirem ao lançamento de um livro de poesia. Mais agradeço dado se tratar de um livro especial, especial porque o primeiro da poetisa Joana Moça.

A poesia, tantas vezes tratada como o parente pobre da literatura, bem merece – e, por certo, também ela agradeceria – a vossa presença.

Muito obrigado por este vosso gesto.

Agradeço, também, à autora este inesperado convite. Posso dizer que não vim de propósito de Coimbra até Famalicão, mas vim com extremo agrado. Há de facto alturas em que só se pode dizer sim.

Bom, mas o certo é que sobre a Joana Moça, que hoje faz a sua estreia no mundo dos livros, não no acto da escrita de índole literária, pouco sei. Só hoje tive o privilégio de a conhecer pessoalmente.

O que tenho conhecimento está escrito na sua sinopse biográfica constante neste seu livro.

No entanto, pelo que li, não só no seu livro, mas também no seu blogue, embora se diga que o poeta, neste caso a poetisa, seja um fingidor, traz-me a imagem de alguém sensível e, através dessa sensibilidade, de alguém que procura interpretar o mundo por forma a entregar ao outro essa sua interpretação da maneira mais simples, mais perceptível possível.

Em suma: alguém que pretende comunicar de forma cristalina, sem adiposidades de qualquer sorte.

O livro: “Sentada na areia”, que hoje aqui se apresenta, editado sob chancela da Edium Editores, é o retrato perfeito dessa sua postura perante as mais diversas situações.

Este título: “Sentada na areia”, isto sem que haja necessidade de o abrir, sugere-me, de imediato, duas situações.

A primeira, alguém que está num areal. Nada mais simples. Mais concretamente, numa praia onde a imagino a contemplar o mar. Talvez observe o movimento das ondas. No entanto, pessoalmente, imagino a poetisa, a criadora desta obra, a contemplar a distância, aquela linha onde o mar e o céu se fundem num único corpo. Esta é a primeira sugestão.

A segunda aproxima-se mais da própria essência da poesia, do acto de construir e destruir para possibilitar uma nova construção. Imagino os parques infantis da minha infância onde havia sempre uma caixa de areia. Há uma criança que brinca sentada na areia. Ergue e arrasa e ergue a sua construção. Esta é a segunda sugestão.

Estas duas situações que o título me sugere são acções próprias da poesia. O poeta precisa de observar o mundo, necessita de encontrar pontos de fusão entre o mundo das ideias e o mundo material que, há pouco, representei como o horizonte.

Mas o poeta procura mais. Sabe que é urgente construir, destruir e voltar a construir, tal como a criança, o que ergue como poesia. A sua areia são as palavras. Trá-las para o corpo do poema, não só pelo que estas transmitem no plano racional, mas também pela musicalidade, plano emotivo, que estas em si possuem.

E é isto o que de facto se pode ler em “Sentada na areia”. Aliás, se tivesse necessidade de elaborar uma síntese, escreveria: “Sentada na areia”, uma viagem ao complexo através do simples ou uma viagem ao universal através do particular.

De facto, a escrita de Joana Moça demanda radicalmente o âmago do que a rodeia para posteriormente nos legar não algo como contemplado, mas algo a contemplar. Pretende, pelo menos esta é a minha leitura, através do que sente e pensa e que pela acção transforma em poema, dar-nos, é certo, a sua interpretação da coisa contemplada, mas mais do eu isso, dar-nos a possibilidade da fresta por onde o leitor – o que ousar fazê-lo – poderá, ele próprio, descobrir.

É uma poética que convida a essa descoberta, fá-lo mas do que entregar o dado como adquirido.

Talvez por isso Joana Moça escreva o seguinte, e passo a citar:

“São as ilusões que nos fazem caminhar”, fim de citação.

Através da descoberta particular, transfigurada em poema e em ilusão, entendida aqui não como erro de percepção, mas como sonho ou desejo, a autora estabelece um objectivo: através da escrita sugestiva possibilitar ao leitor o acesso a um espaço de partilha, de partilha de um caminho.

A elaboração do poema, objecto de arte, como tal feito para o usufruto do outro, parte do eu quer seja através de um plano sentimental, sensorial ou racional.

No caso de Joana Moça este eu surge como elaborador de um ponto de partida, não de um ponto intermédio ou final. Preconiza a abertura da tal fresta sobre o mundo por onde o leitor, como há pouco mencionei, pode entrar.

Se o fizer, pode então partir em busca dos caminhos da sua própria ilusão, aquela onde radica a essência do seu próprio caminho. O caminho visto sob a definição de Antonio Machado, aquele que se faz ao caminhar.

Há, portanto, e em forma de resumo, aqui, nesta obra, os cinco movimentos enunciados:

Primeiro: a sugestão do acto de contemplar, de observação – objecto a ser;

Segundo: indícios da recolha das palavras, matéria que enformará o objecto;

Terceiro: o facto em concreto da criação da possibilidade do objecto – o poema para o poeta;

Quarto: a pretensão da destruição do poema pela leitura;

E quinto e último: a possibilidade da criação do objecto em si – o poema para o leitor.

Joana Moça, neste seu “Sentada na areia” abre a possibilidade do caminho, indaga das suas coordenadas, elabora a sua cartografia, mas tudo para que seja ao outro possível o desenho do passo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

[eis o poema]

eis o poema

ouve

a seiva
corre

nas veias
deste choupo

domingo, 14 de setembro de 2008

[elevas as palavras]

elevas as palavras
que se promovem na tua boca
a tua voz é ventre de sentidos
ágora demandada
pelas aves
em movimento
vai com elas rente
ao tegumento do cósmico
e indaga
a matriz inicial
para que descubra
a magia o ritual
o poema habitado
na conjugação
do verbo sentir

sábado, 13 de setembro de 2008

[eis o poeta]

eis o poeta

que ganha
a jorna

som
a sílaba

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

[eis]

eis
o mar

que se aconchega

na ternura
da areia

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

[e vejo riachos]

e vejo riachos
riachos que crescem
e são rios
rios que correm como loucos
em desejos suicidas
para do sal sentirem
o sabor do fim

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

[é urgente descobrir]

é urgente descobrir
uma outra pedra
de champollion

e decifrar
o dédalo da memória

como renda de bilros
que de gesto em gesto
se constrói

terça-feira, 9 de setembro de 2008

[É tempo de esboçar]

É tempo de esboçar
em silêncio
o regresso.

Tecer no mar a espuma
ao rigor da proa.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

[É no silêncio]

É no silêncio
das palavras
e das imagens
que a memória
se constrói

Esta é súbita
ave
em redor
do momento

Cada instante
se avalia
em permanência

Sangue
sulcando
a pedra

limando
o poente
até à sua perfeição

domingo, 7 de setembro de 2008

[É nas mãos que nasce o gesto]

É nas mãos que nasce o gesto.
Este abre-se.
É pleno de desejo em acto de criar.

sábado, 6 de setembro de 2008

[É amplo o olhar que indaga a luz.]

É amplo o olhar que indaga a luz.
Em cada instante se promovem
os mágicos feitos de esboços no
ensejo de serem rosto,
de terem nome.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

[do peso]

do peso
da pálpebra
à leveza
do sonho

dista
somente
o ensejo
do voo

repleto
olhar
por sobre
o mundo

rente
à epiderme
do universo

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

[do mar azul a imensa]

do mar azul a imensa
imersa a voz
onde o poema em pétala
de espuma
branda e branca
se desfaz

e um barco
na origem do desejo
zarpa e rasga e esventra
o hímen das ondas

e as mãos do artífice
que a madeira cinge
ao côncavo do verso
onde brota a argila
a intensa argamassa
fecunda e fértil

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

[do cigarro]

do cigarro
à memória
não longa
é a distância

como a memória
o cigarro
se reduz
à cinza

o vento
espalha-a

a memória
perde-se

terça-feira, 2 de setembro de 2008

[do centro]

do centro
do cosmos

o movimento
estelar

como dança
ritual

da criação

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

[Diro, é o sentir do vazio]

Diro, é o sentir do vazio
correr em torno do ser.
O saber de um rosto ou nome que em
narcísico lago se não
revele. É ter do poente a
ignota mão por onde não
pulula o acto de criar.