segunda-feira, 17 de maio de 2010

[o despertar dos sentidos]

o despertar dos sentidos
é um verso
que demanda o centro

imenso abismo
por onde o corpo promove a queda
o voo
e abraça o mundo

domingo, 16 de maio de 2010

[o corpo]

o corpo
suspenso

penso
no verso

conjunto
o tempo

suspenso
o olhar

e retorno
com o vento

ao ventre
das estrelas

sábado, 15 de maio de 2010

[o corpo]

o corpo
as mãos
um vaso aberto
à descoberta de um sonho

sexta-feira, 14 de maio de 2010

[o corpo]

o corpo

o peso
imenso
do corpo

âncora
extrema

cadeia
intensa

onde se oculta
a medo
o viandante
do universo

quinta-feira, 13 de maio de 2010

[o coração]

o coração
da pedra

sente
o pulsar

e dá-lhe forma

liberta
o corpo

e dá-lhe um nome

[O cinzel do instante]

O cinzel do instante
desliza por sobre a colina
onde a cidade se derrama
como se encostasse
a cabeça
no travesseiro das rochas
e o sol tocasse os ténues cabelos
que ondulam
no dorso do olhar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

[Nunca a palavra será árvore]

Nunca a palavra será árvore
desnuda e desprovida de vida. A
palavra é fruto gerado
e gerador. Marco geodésico.
Cordão umbilical.
Potência solar,
enigma, teorema,
força íntima do poema.
Sémen que fecunda o ventre
da própria memória.

terça-feira, 11 de maio de 2010

[no ventre]

no ventre
da noite

há um hímen
por romper

uma secreta
vulva

um hirto
clitóris

uma chama
por arder

ou um poeta
perdido

e louco

nos beirais
do tempo

segunda-feira, 10 de maio de 2010

[no varandim]

no varandim
do sonho

lança
a trança

por ela
treparei

para em ti
me perder

domingo, 9 de maio de 2010

[No topo, ao centro, o olhar Cristo descobre]

No topo, ao centro, o olhar Cristo descobre,
Qual rosa cuja pétala se esvai
Sob o peso do orvalho que lhe cai
Para o ventre do cálice que um nobre

De Arimateia, sob a cruz, e sobre
A dura pedra, pôs. Resta o que vai
No olhar seu que sentes no teu. Sai
Nesse olhar, nessa luz. Que em voo dobre

O limite do sonho e da esperança.
Que nesse olhar habite uma lembrança
De paz, de um só instante em que um sorri-

So conquiste do mundo este pendão
Como trofeu de amor. Que Cristo não
Diga: Eli, Eli Lamma Sabactani.

sábado, 8 de maio de 2010

[no teu olhar]

no teu olhar
se decifra
a corola

ampla

de um abraço

sexta-feira, 7 de maio de 2010

[No sol de agosto, embarco no poema]

No sol de agosto, embarco no poema
e aguardo
que a andorinha renove o tempo e habite
o voo rumo ao sul
no ventre do outono.

Regresso

Camaradas,
Após uma ausência de um ano, regresso à inserção de poemas da minha autoria, grande parte destes já com uns bons anos.
Com votos de boa leitura,
Xavier Zarco