sábado, 14 de junho de 2008

2008-06-14 – Junta de Freguesia de Santa Clara – Apresentação: “O livro do regresso” e “Nove ciclos para um poema”

Em primeiro, deixem-me dizer que sabe bem estar em casa. Santa Clara é a minha terra, da qual muito me orgulho de ser o autor da letra do seu Hino. É, no plano afectivo, o prémio que mais me diz. Santa Clara é o local que os meus pais escolheram para viver, a terra onde nasci, embora o bilhete de identidade diga o contrário e onde espero que a minha esposa e os meus filhos se sintam bem.

Posto isto, agradeço muito a vossa presença, assim como a amabilidade da Junta de Freguesia de Santa Clara por nos ter aberto as portas para aqui ser feito este evento. Também, porque é justo referi-lo, por ter mantido o apoio, mesmo talvez um ano depois, à edição desta minha obra: “O livro do regresso”.

Quase todos vós me conhecem como o Pedro. Xavier Zarco soa estranho. Pois bem, este pseudónimo com o qual assino todos os meus textos de cariz literário desde o dia vinte e três de dezembro de mil novecentos e noventa e três, surge não por capricho ou outro qualquer devaneio, sequer por não gostar do meu próprio nome, mas porque um dia alguém me apresentou um livro. Lia-se na capa, Pedro Baptista, como o autor desse livro. Aquele Pedro, mesmo com um P no Baptista não era este. E não é, embora essa dúvida ainda hoje resista.

Para evitar essa confusão, surge então o nome Xavier Zarco, o qual já me acompanha, como antes disse, há um bom par de anos e, espero, porque ainda me considero novo, por mais uns bons e muitos anos, de preferência a viver aqui, em Santa Clara, na minha rua, onde, reparei há escassos dias, ainda há quem me trate por menino, isto apesar da barba já dar sinais de brancura, o que é, pelo menos para mim, bastante gratificante.

Fazendo um rápido balanço, quase estatístico, são perto de vinte anos de actividade literária visível, que se assinala no próximo dia seis de fevereiro, vinte títulos, sendo seis destes sob o formato convencional de livro e um total de doze distinções, isto para não mencionar participações em antologias em Portugal, Brasil, Espanha ou Uruguai, revistas, jornais e nos mais variados sítios da internet. Apesar de tudo isto, há que continuar pelo que fica a minha firme convicção de que mais virão, não só na Poesia, mas em outros géneros literários. Esta produção só foi e é possível porque as circunstâncias familiares o permitiram e o permitem. Como sabem, não sou profissional da escrita. Daí o meu agradecimento aos meus pais pela forma como souberam criar o gosto pela leitura. E à minha esposa e aos meus filhos pela paciência que, não raras vezes, demonstram ao aturar-me. Xavier Zarco, quer se goste ou não, é uma espécie de marca que veio para ficar.

Relativamente aos livros, quem escreve pouco pode dizer, mas como estou em casa, sobre “O livro do regresso” faço algumas confissões. Este é uma espécie de narrativa, sob a forma de Poesia, sobre alguém que regressa. Encerra, embora de forma simbólica, um facto concreto da minha vida. O meu regresso a Santa Clara. Esta aldeia imaginária que vai surgindo no livro é o fruto, embora estilizado, da imagem que em mim guardo das Almas de Freire. Por certo, recordar-se-ão do Lagar e dos rebanhos que por aí andavam; da Tulha e da sua rica vegetação; do Largo das Almas onde o trólei dava a volta, local da partida e da chegada; e havia muitos outros exemplos que poderia mencionar.

A imagem que projecto neste livro poderá porventura ser uma imagem de alguma tristeza, mas esta é sobretudo a imagem de alguém que não viveu uma determinado período de tempo num determinado lugar. E o que se procura quando se regressa são as referências, as tais ruínas que em nós existem e que são os fragmentos que a nossa memória possui.

Depois, há o pormenor dos nossos próprios conceitos. Para mim, no meu conceito de evolução, as cidades não evoluem pela mesura do edificado, mas pela qualidade de vida e é por esta razão que transformei este espaço concreto no tal cenário mais bucólico.

Sobre o “Nove ciclos para um poema”, apresentado na passada terça-feira em Bragança, creio que bastará referir que é uma homenagem ao mundo da lusofonia. Nove citações de nove poetas de cada um dos países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor; como ponto de partida para a construção de ciclos autónomos, mas unificados pela língua. Simbolicamente, a Língua é a própria essência deste livro. Aliás, creio ser esta o mais válido garante, o principal pilar da soberania de um povo.

Para concluir, gostaria de agradecer à Edium Editores pela aposta que vem fazendo na Poesia; agradecer a todos vós pela vossa presença, porque pode não haver Poesia sem poetas, mas não há de certeza Poesia sem leitores; e novamente, senhor Presidente, o meu muito obrigado por nos ter recebido aqui e pelo apoio concedido à edição d’ “O livro do regresso”, agradecimento que é extensivo à Região de Turismo Planície Dourada.

Muito obrigado a todos.

Uma nota, antes deste discurso, dadas as circunstâncias, referi três tópicos, a saber:

1. Agradeci a amabilidade do Presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara por me ter ofertado o brasão da Junta, gesto que muito me orgulha;

2. A ausência de "camaradas" das Listas e de outras minhas andarilhanças das letras, com ressalva pelas excepções, ou seja: a presença de Carlos Ferreira (Lista Escritas) e do poeta Jorge Melícias. Não referi o poeta João Rasteiro, que por circunstâncias pessoais chegou após o fim da sessão, mas fica aqui o meu agradecimento;

3. Da alusão ao Prémio Nobel da Literatura no discurso do Presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara. Naturalmente que tal não está nos meus horizonte, embora me arrisque porque escrevo, como todos os que escrevem.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

2008-06-10 – Centro Cultural de Bragança – Apresentação de “Nove ciclos para um poema” (Edium Editores, 2008)

É bom regressar a Bragança. Digo-o, não por cortesia, mas porque é de facto bom voltar aqui.

Em outubro, aquando da entrega do Prémio Literário da Lusofonia, referi a minha satisfação por, num certame multidisciplinar, a Poesia ter sobressaído. Nesse mesmo dia, esta autarquia mostrou todo o empenho e disponibilidade para auxiliar em tornar este livro uma realidade. Depois, tive conhecimento de que o novo regulamento deste certame literário contemplava o género teatral. Se outros não houvessem, estes são três grandes argumentos para me sentir bem aqui.

Se a Poesia é, tal como disse na altura, a arte que melhor exprime a alma de um povo, o teatro, pela escassa oferta existente no mercado, bem merece por parte das instituições uma particular atenção.

Quem gosta destas coisas da literatura, deve saudar a coragem da organização deste concurso pela não escolha de uma via mais fácil, mediaticamente mais apelativa.

Bem-hajam por isso.

Sobre este novo livro: “Nove ciclos para um poema”, pouco ou nada pode ou deve dizer quem o escreveu. No fundo, só vos posso trazer os motivos de o ter feito.

A partir do instante em que este se transforma em livro, objecto partilhável, como que deixa de ser do autor e passa a ser de quem o lê, aberto à crítica quer seja esta positiva ou negativa. Ambas são bem-vindas. Como já por diversas vezes disse só não aprecio a indiferença. Assim só posso referir os motivos da sua criação quer pelo conteúdo quer pela forma que assume.

“Nove ciclos para um poema” pretende ser uma homenagem ao mundo lusófono, partindo de nove citações de nove autores dos nove pontos do globo onde a lusofonia é a expressão maior: Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor.

Uma digressão de recolha dessas citações para, posteriormente, daí fazer nascer estes nove ciclos. É somente isto, o prazer de erguer Poesia no tal branco da página.

Espero que este livro, que agora surge, tenha o melhor acolhimento possível, que seja capaz de vos trazer algo, menos a tal indiferença.