segunda-feira, 29 de setembro de 2008

2008-09-27 – Auditório C. M. Amadora - Apr. de “Mínimos instantes”, de Paulo Afonso Ramos (Edium Editores, 2008)

Agradeço a vossa presença, como é, aliás, obrigação de todos quantos estão ligados à Literatura. Sem leitores não há, de facto, livros, mas objectos criados com intuito decorativo.

Um livro, quando nasce, é para ser lido. É um acto de partilha de sensações e ideias, de uma forma específica de olhar e interpretar o mundo. Daí, o meu sincero obrigado.

Agradeço também à Câmara Municipal da Amadora o facto de permitir esta apresentação neste seu espaço.

Naturalmente que também agradeço à Edium Editores por mais esta sua aposta, mas, sobretudo, por existir. Sei que não quer ser grande, mas, pelo trabalho que tem desenvolvido, queira ou não queira, já o é.

Bom, mas é ao Paulo Afonso Ramos que devo um agradecimento especial. Não por me ter convidado para escrever o prefácio deste seu livro ou pelo desafio de o apresentar, mas pelo favor que me faz em ser, de facto, um camarada.

Conheci-o no Alvito, uma das mais belas vilas deste nosso país, aquando da apresentação do meu “
O livro do regresso” e do título “Da humana condição” desse grande poeta de Língua Portuguesa que é José-Augusto de Carvalho.

Não satisfeito com os ares diurnos alentejanos, acompanhou-nos pela noite dentro até outra sessão em Viana do Alentejo. Diria a má-língua que a dúvida reside em saber se era a Poesia ou a Gastronomia – melhor: o jantar e a necessária digestão de tão aprimorado repasto; o que o fizera percorrer aqueles caminhos de além-tejo.

O certo é que tem sido uma presença constante via telefone, o que me leva a supor – e que se confirma em diversas ocasiões - que partilhamos algo de importante: a militância; a vontade de fazer chegar o mais longe possível o que vamos e que os outros vão escrevendo.

Mas uma coisa é certa. Neste pormenor não há quaisquer dúvidas: só a indústria farmacêutica não o deve ter em grande conta. No fundo, desviou um mais do que potencial cliente dos célebres medicamentos para dormir. Esse mais do que certo cliente era eu. O que esperava para carregar no botão para actualizar o seu blogue. Pois bem, o Paulo Afonso Ramos, ensinou-me a programá-lo pelo que ganhei uns bons minutos extra de sono diário.

Por fim, a boa disposição e a capacidade de comunicação fazem do Paulo Afonso Ramos alguém com quem vale a pena conversar. É alguém que confere à sua escrita estas preciosas características.

Por tudo isto, e muito mais que poderia aqui dizer, é, para mim, com bastante agrado que vim apresentar este seu novo livro: “
Mínimos instantes”. Até vos confesso que se outra pessoa aqui estivesse a fazê-lo sentir-me-ia com um pouco de inveja. O Paulo bem merece a nossa presença.

Ora bem, “
Mínimos instantes”. Como epígrafe a esta leitura, permitam-me que utilize um dístico do poeta Albino Santos retirado do seu livro, que em breve a Edium Editores apresentará, intitulado: “Madrugada sem fronteiras”. Albino Santos escreve o seguinte:

É no sonho
que o instante se faz eterno

Pois bem, poderia acabar aqui e agora a apresentação do livro “
Mínimos instantes”, de Paulo Afonso Ramos. De facto, estes versos de Albino Santos sintetizam quase na perfeição o muito que se pode descobrir ao ler este volume.

Temos a dimensão onírica, o instante e o ensejo de esse instante se prolongar no tempo.

Mas temos sobretudo aquilo que torna possível uma possível descrição do instante: a palavra. Palavra que Paulo Afonso Ramos recria constantemente porque a respeita como organismo vivo, possuidor de respiração própria, capaz de interagir com as outras palavras.

Mas essa percepção de interacção só se torna possível porque existe quem as decifre, quem as leia.

Como escreve Paulo Afonso Ramos, e passo a citar:

Deixo-me nas palavras...
Entrego-me ao sabor de quem as lê

E é curioso este excerto que vos li. Uma frase hexassilábica seguida de um decassílabo, como se nos anunciasse, tal como nas odes – as alcaicas assumem estas características dado serem compostas por hexassílabos e decassílabos; da profundidade temática.

Refiro esta circunstância dado a mesma ocorrer por diversas vezes neste volume como, por exemplo, esta outra, e passo a citar:

A noite sedutora teve-me nos seus braços de capim

Ou seja: há por parte do autor o cuidado ou a necessidade de atribuir, em determinadas circunstâncias, um certo ritmo, ritmo esse capaz de acordar uma certa ligação entre a componente emotiva e a componente racional do leitor ou, mais concretamente, do decifrador do texto.

É a palavra a assumir o papel primordial neste “
Mínimos instantes”.

Como há pouco referi, um livro necessita de leitores, tal qual aquela célebre expressão popular, como pão para a boca. Entre as diversas opções de registro possível, a escolha de Paulo Afonso Ramos é, na minha óptica, esta: um remetente, um destinatário.

Ou seja, na visão do leitor, que eu sou, o autor ponderou sobre a palavra, mas por mais ardiloso que seja o seu uso, isolada esta de pouco ou nada vale. Havia que encontrar o meio, o veículo mais adequado para a reactivar, para a retirar do seu estado, digamos assim, letárgico.

Assim, Paulo Afonso Ramos opta pela tal máxima que há pouco aludi: um remetente, um destinatário; recorrendo neste seu “
Mínimos instantes” a um registro que qualifico próximo do epistolográfico.

E esta é, na minha leitura, a forma mais apropriada de comunicar. Embora hoje estejamos habituados a esta coisa do e-mail, o certo é que há uma certa magia em torno de uma carta.

E esse é o prazer que o Paulo Afonso Ramos oferece ao leitor, o seu imaginário destinatário, mesmo que concreto ao autor este seja.

É nesta encruzilhada que situo este seu livro. Cada um de nós pode, portanto, optar pelo caminho que desejar porque diversas são as hipóteses que se abrem ao virar de cada página.

Obrigado.

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