domingo, 11 de maio de 2008

2007.05.27 - Palácio de São Marcos (São Silvestre - Coimbra) - Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá - 2007

"Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: Invenção de Eros". Eis o título do original que, hoje, é distinguido por V. Ex.as, segunda obra de minha autoria contemplada com o Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá, o qual agradeço.

Entendi concorrer a este certame, embora sendo esta a edição imediatamente após à que foi concedida a uma obra minha esta mesma distinção, por dois factores:

Em primeiro, a circunstância do nascimento desta obra. E devo confessar que sempre achei curiosa a forma como José Saramago justifica o surgimento de alguns dos seus livros: uma espécie de visão. Não foi, de todo, este o caso, mas esteve lá perto.

Este ciclo nasce da feliz confluência da audição de "Rapsódia sobre um tema de Paganini", de Rachmaninov e a leitura do soneto "Invenção de Eros", de Vítor Matos e Sá. Devo reconhecer: há instantes assim, momentos que definem, com precisão, não só o ponto de partida para a construção de uma obra, mas o próprio processo em que esta deve ser executada. Nada mais natural, e justo, do que o título reflectir exactamente as duas parcelas enformadoras desse instante, embora substituindo o termo rapsódia, aparentemente mais adequado por este significar recitação de poema, e é de Poesia que se trata, por variações, mais consentâneo, em minha opinião, com a estrutura deste original, ou seja: mantém-se o registro do Poema de Vítor Matos e Sá, fazendo desta matéria primordial nascer um registro diverso.

Em segundo, celebrar a descoberta de um Poeta. Porque, de Vítor Matos e Sá, era escasso o que conhecia. Receber há três anos, neste belo Palácio de São Marcos, pela minha obra: "O guardador das águas", esta distinção, fez com que sentisse a curiosidade, talvez mesmo a necessidade de demandar a sua obra. Ainda bem que assim ocorreu. Um Poeta assim merece chegar ao conhecimento, melhor ainda, ao reconhecimento público.

Há escassos dias, comentando um pequeno ciclo poético de minha autoria, um dos Poetas que mais admiro, José Félix, expressava, e passo a citar: “diz-se que há duas coisas de que vale a pena escrever: a morte e o amor. Eu confirmo e reitero.” Fim de citação.

Nem de propósito. São poucos, dos que tive o privilégio de ler, os que trataram estas duas temáticas, importantes na Poesia porque relevantes para a própria existência do Homem, principalmente, o amor, em que este Poema, "Invenção de Eros", é sublime exemplo, com tanta mestria como o patrono deste Prémio. Mesmo que outros motivos não existissem, não pode a sua obra poética permanecer hibernada num qualquer armazém ou recanto de livraria. Há que persistir na sua divulgação. Trazê-la para a rua, o verdadeiro lugar da Poesia.

Por isso, felicito o Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra por este evento. Não só por relembrar o seu nome, mas, no fundo, por desta forma sugestionar a descoberta do seu legado poético.

No entanto, realizar esta iniciativa é, também, prestar um outro género de homenagem maior a um poeta, talvez a maior homenagem possível: permitir que sob o seu nome se semeie outras árvores, de onde nascerão outros frutos, outras fragrâncias para o enriquecimento da Língua Portuguesa.

Bem hajam por isso.

Obrigado.

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