domingo, 16 de novembro de 2008

Prefácio - "A metáfora das asas", Manuel C. Amor (Edium Editores, 2008)


"A metáfora das asas"
Manuel C. Amor
(Edium Editores, 2008)

Nota breve

Como escrever um prefácio a um livro quando o próprio poeta, embora sob pseudónimo, insere um poema sugestivamente intitulado: “Como se fosse um prefácio”; e que decididamente nos desafia para o desbravar da obra?

Não sei qual é a resposta, mas o que sei é do privilégio de escutar o coração da terra no coração de cada poema.

Talvez por esse motivo, ao ler este “A metáfora das asas”, senti que observei o poeta na sua condição de exilado, longe das coisas mais simples, mas que são o cerne da sua matriz, e que necessariamente se perpetuaram em si, esboçando o desenho de cada passo conquistado.

Manuel C. Amor olha para o interior de si próprio, explorando todos os possíveis compartimentos da sua memória, em busca de sons, cheiros, paisagens, afectos, mas sobretudo daquela música secreta que lhe invade a alma.

Porque o poeta vive o seu tempo e as suas circunstâncias, abraça essa matriz como quem sabe que, se o não fizer, o legado aí gerado se perderá.

Radica aí esta sua urgência, esta necessidade crescente, que se sente a cada dobra do poema, de moldar a palavra como arma.

Gritar para que seja ouvido, escrever como se escrevendo, para além do desejo de passar a sua mensagem, efectuasse a sua catarse, conferindo desta forma à sua escrita toda uma carga emotiva só ao alcance de quem viveu com intensidade o que converte em poesia.

Esta metáfora das asas, com um artigo definido a antecedê-la, é como uma impossível escultura de uma lágrima, de uma lágrima pura, que teima em cair, deslumbrada pelo eclodir da dor, mas também, ou talvez sobretudo, pela esperança que a tudo resiste.

Em suma: uma poética de combate por valores, causas a que o poeta não pode, nem quer, por respeito a si próprio, ser indiferente.

Cabe agora ao leitor decifrar esta metáfora, este sentido outro da palavra, das palavras, em suma: ler esta metáfora pelo seu próprio respirar.


Xavier Zarco
Coimbra, 3 de Outubro de 2008




















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