sexta-feira, 13 de março de 2009

[Era uma vez um pássaro que se]

Era uma vez um pássaro que se
chamava Enola Gay. Gostava de
rosas breves que, céleres, buscassem
o limite do mundo, o cume azul.
Sob a trémula luz de uma candeia,
uma criança lê, a medo, o Livro
do Apocalipse. Soam no ar trombetas.
Quebram-se selos. Caem as sementes
que nas garras o pássaro trazia.
A criança adormece, mas não sonha.
Aguarda, simplesmente, que, da terra
onde a rosa nasceu, brotem os quatro
cavaleiros: a Fome, a Pestilência,
a Guerra e a Morte; e habitem esta noite,
o ventre desta noite. A mais escura,
a mais cruel das noites todas, todas...

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